![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5PBU2CzCR0_sJJdnbKu-jf0OAE54IpMSxWwha1YlpNIrpqYY44nLEYSZ5lRkLZpg8LvxqKgNXOXdguzZjNY8lZO4jozF5eCW1hSoyQWPDfBKDRhMmsHUxsbFPMsNbbLiIfIi3TPEdLGho/s400/tumblr_kpqkvnTgWC1qztgx3o1_500_large.jpg)
Não sei, meu amor.
É essa a verdade.
Não sei se a vida nos prometeu Paris, a torre Eiffel à espreita e a Notre-Dame a benzer-nos as testas, em profunda reverência. Não sei se algum dia vou ver-te de branco, figura sacra sobre o altar, os lábios a lembrar o escarlate das tuas unhas, quando ainda te sonhava em segredo. E as pombas em alvoroço, a insultar S.Pedro e o vento que se levantou, e eu a saber que é em tua homenagem que ele grita.
Não sei se ainda há tempo para chegares à hora marcada, desalinhada e absorta, as mãos demasiado pequenas, os braços demasiado compridos, o teu andar sobranceiro. Não sei se quando chegares, vais abrir a porta deste bistrot , galgar as escadas duas a duas e dar um último olhar ao espelho que te recebe no segundo andar. E se, depois, vais procurar-me, arregalar muito os olhos e, enquanto chove lá fora, perceber que chegaste atrasada.
Mas sei que, nessa altura, vou debruçar-me sobre o Sena, falar à minha mãe e a quem já cá não está, e prometer a mim mesma que salto, quando o primeiro carro virar à direita. E em hesitação, sob a chuva, vê-lo travar, enquanto dobra a esquina. E aí, aí mergulhar sempre, o corpo a entregar-se ao embalo, descarnado em arrepios, avesso à respiração.
A tua voz a dizer que sim, a Notre-Dame a abençoar-nos e a minha pele azulada, o cabelo a lembrar um véu, de luto pelo meu Sacré-Coeur.